quinta-feira, junho 14, 2007

Rashdoo... púrpura... claro...

Meu ideal seria escrever uma história tão engraçada que quando lessem minha história no jornal rissem, rissem tanto que chegassem a chorar e dissessem - "aí meu Deus, que história mais engraçada!".
Ah, que minha história fosse como um raio de sol, irresistivelmente louro, quente, vivo, em suas vidas.

E eu esconderia completamente a humilde verdade: que eu inventei toda a minha história em um só segundo, quando pensei na tristeza, que sempre está doente e sempre está de luto e sozinha.

Fáa# — foi o que murmurei ao acaso lembrando um verso antigo de Vinícius de Moraes; e no mesmo instante me lembrei também de uma frase ocasional de Pablo Neruda... de repente esbarrei em Lorca e sem mais me peguei a Pessoa... gritei então Dylan...

Lá embaixo, na rua, sou um tocante e pequeno vulto, reduzido pela projeção vertical. A ternura e o tremor de meu duro corpo, meu riso, a insolência alegre com que invado minha casa e minha vida, e minhas previsíveis crises de pranto — tudo me perturba um pouco, mas reajo.

Abro os braços as verdades e agarro-as com veemência – “O que fazem aqui?”... Tão pouco importa... eu também estou aqui!

Faço-me perguntas, e ao mesmo tempo me sinto ridícula em fazê-las. Eu tenho toda uma vida pela frente, e um dia lembrarei dessa história como de uma anedota engraçada de minha própria vida, e talvez a conte a outro homem olhando-o nos olhos, passando a mão pelos meus cabelos, às vezes rindo — e talvez ele suspeite de que seja tudo mentira.

Um compasso de uma só nota que ecoa aos ventos e emana certezas e diferenças... a construção involuntária e ao mesmo tempo imprecisa... o rascunho perfeito...

Fáa# - disse eu, com estranho ardor; e foi como se minha palpitação me fizesse mais fremente e pura. Então uma voz suave me disse, e era como se a minha melancólica mãe ou, ainda mais distante, meu irmão e padrinho me passasse a mão pelos cabelos: " Descansa, dorme em paz, Fáa#, tua consciência amiga, dorme em paz; dorme...

Traçados púrpura me seguem a sombra... me pergunto – “O que mais a de vir diante de certezas tão incertas?”... em minha involutabilidade... apenas vivo!

E se amanhã, na minha inquieta fantasia, esse meu nome for dado ao algo que mais amas, de sem remorso que no galope deixes que o luar lhe beije as claras crinas, ou à mais bela flor do pélago ao mar; e até podes chamar Fabiana a uma nuvem que se doira no momento em que o céu, para o acidente, já toma a cor da violeta, por mais ansioso que te faça a sua beleza peregrina... deixe... nada mais podes fazer... nada mais cabe aqui... apenas Fáa#...

FÁA#

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